221. " Tenho sido um sonhador irônico, cruel, infiel às promessas interiores.
Gozei sempre, como outro e estrangeiro, a derrota dos meus devaneios, assistente casual ao que pensei ser. Nunca dei crença àquilo em que acreditei. Enchi as mãos de areia, chamei-lhe ouro, e abri as mãos dela toda, escorrente. A frase para a única verdade. Com a frase dita estava tudo feito; o mais era a areia que sempre fora (...)
'O Livro do Desassossego'- Bernardo Soares- Fernando Pessoa.
Livro escrito entre 1913 e 1935.
Ah, como é bom sonhar e sabê-los sonhos, de éter e devaneio, sem compromisso de nada realizar.
Como acalma o espírito, da derrota virar refém e nela viver a antítese da vitória, e nessa antítese gozar o êxito.
Não por preguiça ou braços fracos mas por descrédito do desejo.
Os modelos todos se revelaram frágeis, e nem esses pude seguir.
Não é cinismo aceitar o fracasso, é indiferença.
Atirar a flecha mil vezes não leva a acertar o alvo que não se vê.
Tela de Ferdinand Hodler - (1853/1918)
Pintor Suíço.
Terê Oliva / 2004. |
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