sábado, 20 de agosto de 2011

PINTO NÃO É BICHO, É ESTORVO -OU- O SUMIÇO DA COELHA.

Só os mais íntimos sabem desses acontecimentos, mas agora contarei a todos porque tal fato merece  sair aos ventos, já que alegria espalhada fica mais alegre. Até merece benção dos céus; anjos e santos gostam de ver as criaturas rés-do-chão rindo nesse mundo que o Criador fez e não deu tão certo quanto pensara.
Alguma coisa saiu errado lá trás, muito lá trás, quando Adão em vez de ficar fazendo amor foi comer maçã, e Eva trouxe seu bichinho de estimação, uma anaconda cheia de má intenção p'rá junto morar.
Mas deixemos a cobra de lado e vamos falar das coelhas. Duas coelhas anãs, anãs mesmo- eu nem sabia existir tal miudeza e imagino tantas gentes também não- ganharam lar e sustento na casa grande, grande demais, enorme, da menina Fifi. Fifi de Filomena, porque esse nome virou moda depois que a filha da atriz da novela assim foi batizada e saiu com direito a foto em toda revista.
Bonitas as canduras.Não bonitas só de cara e de corpo,mas boniteza de orelha. Bicho é assim, tem boniteza que só de bicho é, mesmo não sendo beleza.
Urubu, bicho mais feio não há, ou quase não, mas voa alto de asa negra aberta que dá rasante, e lá no alto ninguém vê cara nem coração, e pensa quem não conhece  que pássaro mais grande e lindo não há.
As orelhas das pequenas, compridas, caíam de lado, e davam jeito de meiguice e sossego. As orelhas pediam carinho.
Porém, como tudo na vida que tem dois lados, bom e mau , claro e escuro, e tudo mais que se possa imaginar, escolha de bicho de estimação também tem.
O primeiro dia correu tranquilo, e Fifi foi dormir na certeza de ter cumprido obrigação: deu comida, deu água, protegeu do frio com conforto suas duas coelhas para o sono dos justos, na gaiola dos hamsters, que já haviam partido para outras plagas, assim como os pintos e as calopsitas.
Na manhã, saudosa e sorridente, Fifi nem seu leite tomou. Como toda criança, afeita à novidades correu para rever suas duas bichinhas.
Mas, oh! Que susto! Que decepção! Uma solitária coelha a olhou com olhar triste de morte na família. A irmã mais bonita, mais dengosa, a preferida, que nunca se falou para não causar ciúmes na outra, havia desaparecido. Ninguém sabe para onde ou se tem volta tal proceder.
A caçada começa. Tão organizada e medida que parecia se estar procurando ouro em garimpo.
Fifi em lágrimas de cheia de rio, não se conformava com o sumiço da mais amada, e participava da busca com a cabeça a funcionar em providências outras. Colar cartazes nos postes da rua, na padaria, no mercadinho; com a foto de uma, a ajuizada que na gaiola ficou, dizendo ser a outra.
E era tanta lágrima doída que alagou a casa inteira.
A avó que não gosta desses bichos bobos e já alguns havia posto a correr e voar, e até a tartaruga Genoveva da filha deixara fugir, foi logo suspeita de tamanho rebuliço. Jurou inocência e a família quase acreditou.
Não faria tal maldade com a coelha, ainda mais anã, tão querida da neta também tão querida.
Dos pintos se livrara sem dor na consciência quando as crianças eram pequenas, porque pinto não é para se estimar, é brinde em feira animal ou em compra de muito ovo na promoção do mercado. Por que não davam desconto? Dar pinto?
Ofendida com a acusação, largou o café e saiu em busca da prova de sua inocência.
São Francisco, seu santo de devoção, porque ninguém pode entender, nem ela nem mesmo Ele dos animais protetor, cercado sempre dos irritantes pombos, lhe dá inspiração.
Em dois minutos mal contados , atrás de uma tábua no quintal abandonada vê a coelha castanha, imóvel.
Não deu alarde com medo de ter encontrado só metade da coelha. Quem sabe rato pegou e comeu um naco? Havia vestígios de ratos ao largo, perto do esconderijo da dita.
Gritou por Nardali, ajudante da casa que de terra longe veio e com essas coisas estava acostumada. Encontrar metade de bicho não embrulharia um estômago que comia cobra, tatu e outros mais.
Viva! A bichinha estava inteira e incólume, apenas suja de tanto passeio por terra e jardim.
Fifi correu com braços abertos tal qual namorada em filme de amor, e levou a danada para os procedimentos primeiros: água, comida e limpeza.
Nardali ficou com a fama de heroína, salvadora das anãs indefesas, mas São Francisco que tudo sabe e tudo vê, pois é íntimo do Criador, anotou no seu livrinho alguns pontos para a avó, que deve estar há muito no vermelho pelos tantos pintos que,impiedosamente, para o céu das galinhas despachou.

Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com

* Baseado em uma História Verídica :0)


2 comentários:

Anônimo disse...

que coisa linda!!!

Soraya disse...

Amei!!
Muito bom de se ler!!