quarta-feira, 3 de agosto de 2011

FRUTA.

Salivo por um bocado da fruta.
Um naco que os dentes consigam arrancar.
O doce da polpa, o néctar escorrido
A lambuzar o queixo e o ventre.

Salivo pelo sabor sobre a língua
Que a terra fértil sem o pensar gerou.
Garganta em nó
Coração de amor a rebentar.

A boca escorre o apetite que jamais se farta
Faminto sempre.
Tolhida fome em pão distraída
Alijado espírito, calada música
Esquecida poesia no alimento engolido.

Partam-se todos os ossos.
Desfaça-se o cálcio que o esqueleto compõe
Sequem os músculos atrofiados sem função
Que a luz e o som, em ondas se diluam no universo.
A dor que tiver que doer, sem compaixão se manifeste.
Sem carne, sem sangue, o ser se aniquile.

Que a eletricidade da mente se apague
Que Deus se omita e abandone a obra
-Distorcida cria-
E o diabo em festa se regozije.
Que danem-se os homens e sofra eu as consequências...
Mas que o paladar sobreviva.

Tela de Jan Davidz de Heem - (1606/1683)
Pintor Holandês

Teresinha Oliveira.

5 comentários:

Ana Cecília Moura disse...

Uau, impactante! Nunca mais volto a pedir-lhe que observe as taxas de glicose do hemograma.

Ana Cecília Moura disse...

Brincadeiras à parte, que plasticidade nos oferece seu texto! Chegou a escorrer o sumo da fruta por aqui também.

Ana Cecília Moura disse...

Reli... Esse vou levar para a análise. É bom na mesma proporção que é brutal.

Anônimo disse...

Neruda com Bukowski, você hoje!

Andradarte disse...

Quando se gosta........
Beijo