terça-feira, 23 de agosto de 2011

A ESTIRPE DO DRAGÃO

A 'Estirpe' foi um dos primeiríssimos livros da minha vida, talvez o terceiro ou quarto. Infelizmente, com certeza, só recordo da minha estréia com o Cronin em 'O Castelo do Homem sem Alma'.
Claro que no colégio li os obrigatórios de sempre, mas não fazem parte da minha memória literária.
A 'Estirpe do Dragão' é uma lembrança querida; da garota que entrava numa grande livraria, sozinha, e ficava horas por lá, olhando as prateleiras transbordantes de títulos, sem saber o que comprar com todo o pouco dinheiro que juntara, pedindo a pai, a mãe ou ganhando nas visitas da avó.
 Mesada ainda não existia.
Niterói, Icaraí, Rua Gavião Peixoto. 
Lembro-me nitidamente, até dos olhares enviesados do dono que não me deixava entrar descalça, eu vindo da praia. Ou implicava com minha inseparável bicicleta, uma Monark vermelha, que eu pedia para deixar num cantinho da loja.
Escolhi 'A Estirpe' pela capa, vermelha e amarela, chamativo contraste com homens chineses sentados a me olharem indiferentes.
Na época eu não sabia que meu signo chinês era dragão, aliás, nem sabia que existia horóscopo chinês. Fui procurar o significado de 'estirpe' no dicionário assim que cheguei em casa, e para sempre me apaixonei pela palavra e pelo livro.
Para uma jovenzinha que morava na beira do mar, a China era um lugar tão desconhecido e distante quanto a lua.
Acertei na mosca, ou como diriam os chineses - depois de tantos livros sobre a China, já conheço um mínimo - "os deuses dos meus ancestrais guiaram meus olhos e meu coração."
Atração imediata por Lao-Tan, Jade, Lao-Er, Pansio e tantas outras personagens das quais, até hoje, recordo personalidade e destino.
Pearl Buck, que o escreveu e na China viveu metade de sua vida, é uma pessoa que muito amo. Levou-me a passear pelas aldeias chinesas, perdidas nas montanhas e vales de um país imenso, que nem seu próprio povo conseguia dimensionar.
Conheci seus deuses- os generosos e os cruéis que se devia temer por invejarem e destruírem a felicidade dos mortais- suas festas, sua culinária, seus noivados e casamentos, sua estrutura familiar, suas tradições...
Vivi em meio a esse povo os dias da vida simples, de plantio e colheita, de fartura e fome, de nascimento e morte, de guerra... 
Vem daí a minha paixão pela China e sua cultura milenar, e essa mania dentro da mania de ler, que não deixa escapar nenhum título que me conte coisas de lá.

Tela de Liu Yi - (1958)
Pintor Chinês Contemporâneo.

Teresinha Oliveira 

Um comentário:

JasonJr. disse...

Ipi, Ipi, Urra! :D :D :D