quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O DIREITO DE SER BOBO

Sou alegre e quase bonita, de alma jovem porém sensata.
Espirituosa e sempre pronta para os prazeres da vida
Em cada canto onde ele se esconda.
Em alhures também se goza e se ri.

Não sei lidar com computadores, me enervam modernas tralhas. 
Mal sei ligar minha máquina de lavar roupas e mandei às favas o celular
Que tudo fazia, até novela que não assisto passava
Contudo falar e escutar que é bom, lá isso não fazia.
Mas sou íntima da Cecilia Meireles, do Fernando Pessoa e outros mais por aí.
Depois que descobri que Truffaut não era um doce de chocolate
Me apaixonei pelo cinema francês.
Nacional nem sempre gosto, falta enredo e produção.

Não falo inglês, e escorrego no meu português.
Ainda mais agora que, sem nada de útil a fazer, os gramáticos
Jogaram no lixo a linda trema, alguns hífens e acentos
Falando de ditongos e paroxítonas como se todos lembrassem o que é.

Também não sei ganhar dinheiro, logo,  gastar também não posso.
Todavia, divirto-me com pouco e da vaidade me desfaço sem penar
Já que odeio lojas e roupas novas; experimentá-las é um tormento.
Gosto das velhas, que como bom amante,  já se moldaram ao meu corpo.

Sei amar como poucos e leio nos olhos e no vento o porvir de qualquer um
Meio bruxa, meio fada desengonçada no fundo de mim.
Tola criatura, que em sua poltrona sentada, cercada de livros e cadernos
No seu pensamento sem freio, escreve poemas bobos assim.


Obra de Celine Veilhan
Ilustradora Francesa Contemporânea.

Terê Oliva


Um comentário:

Penélope disse...
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