segunda-feira, 8 de agosto de 2011

VENTOS FEBRIS

Ver criança doente dói mais no peito que amor enlutado.
Dele se escapa, mesmo náufrago que nadar não sabe
Na esperteza dos anos somados, no casco forte das costas e do barco
Com braço firme e remo longo para outros portos se desvia.

A criança, anjo passarinho de olhos tristes e asa quebrada
Sem barco, sem remo, ao nosso amor confiada e nele confiante
Lânguida no leito sossega, momento raro que assusta
Ao gemer dor aqui e dor ali, dor de injeção, dor de medo do que virá.

O cheiro dos remédios é mais um caco no mosaico de angústias
Que se espalha no ar pelo quarto
Pela casa, fechada com temor dos ventos febris.

Nada a fazer, além do tudo já feito.
Calor medido, oração recitada com fé que nem se sabia tamanha
Oculta na rotina e na língua, mesmo assim guardada para tal precisão.

Carinho desdobrado em levíssimos lençóis e fronhas
Brancos, para recender saúde. Histórias contadas sem fim.
Banho, nem frio nem morno, jamais correto. Difícil acertar graus alheios.

Depois da espera que a vida ensina, mas ninguém aprende
Porque paciência não tem ensinamento que grude
O sol aparece e amaina a dor, e aquece o sorriso e traz a fome.

A avezinha, com algumas penas perdidas, estica as asas e as pernas bambas
E com intenção de vôo  nas faces coradas
Diz que quer brincar.

Tela de Charles Burton Barber - (1845/1894) - Pintor Inglês.

Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br




2 comentários:

Anônimo disse...

Imagem LINDA.

Anônimo disse...

O passarinho, com algumas penas perdidas, estica as asas e as pernas bambas
E com intenção de vôo nas faces coradas
Diz que quer brincar.

ouhn ^^